Desinformação uma medida da Contrainteligência
A desinformação é uma medida de caráter ofensivo onde a empresa através do seu departamento de Contrainteligência irá iludir a concorrência sobre suas atividades e principalmente sobre o lançamento de seus produtos e/ou serviços.
Lembrando que a Contra-Inteligência é o ramo da Atividade de Inteligência responsável em salvaguardar o Sistema da Empresa, contra as ações dos seus concorrentes. É uma atividade permanentemente exercida e executada com o objetivo de proteger conhecimentos vitais para a empresa, seu pessoal e instalações contra as atividades desenvolvidas pelo Serviço de Inteligência da concorrência.
Para atender o que está descrito no conceito acima, a Contra-Inteligência conta com dois segmentos:
- Segurança Orgânica e
- Segurança Ativa.
A Segurança Orgânica é o conjunto de medidas passivas com o objetivo de prevenir e até mesmo obstruir as ações do serviço de Inteligência da concorrência. Para isso conta com os seguintes grupos de atividades:
- Segurança de Pessoal;
- Segurança da Documentação;
- Segurança das Comunicações;
- Segurança da Informática e
- Segurança das suas Áreas e Instalações.
A Segurança Ativa é a atividade desenvolvida pelo serviço de Inteligência da empresa, com o objetivo exclusivamente ofensivo visando detectar, identificar, avaliar e neutralizar as ações desenvolvidas pelo serviço de Inteligência da concorrência. Essa atividade é desenvolvida através das seguintes ações:
- Contra-Espionagem;
- Contrapropaganda e
- Desinformação.
A meu ver, a atividade que pode traduzir em um ganho significativo para a empresa, tornando-a mais competitiva nesse mundo globalizado, onde o risco está presente em todas as suas atividades, seja ela de produto ou serviço, é a Desinformação.
A Desinformação da Segunda Guerra Mundial
Buscando mostrar sua importância vamos fazer uma viagem ao passado, mais precisamente na década de 40 (quarenta), durante a Segunda Grande Guerra, onde uma Operação do Serviço de Inteligência Britânico confundiu a Inteligência Alemã, obtendo êxito na invasão da Europa.
Conhecida como a mais bem sucedida Operação de Desinformação da Segunda Guerra Mundial, surge a Operação “Mincemeat – Recheio”.
Após o sucesso da invasão da África do Norte, os Estrategistas aliados queriam definir o próximo passo: avança da África para a Europa através da Sicília, pelo estreito de Messina. É claro que os alemães, por certo, esperavam por isso e iriam concentrar suas forças na região. Como convencê-los do contrário, induzindo-os a dispersar suas tropas para outros pontos do continente europeu? A partir daí é que entra em ação o Intelligence Service britânico, quando um de seus membros pensa numa Operação de Desinformação.
Como os alemães sabiam que oficiais ingleses sobrevoavam a costa espanhola rumo à África do Norte, por que não lançar ao mar um cadáver com documentos falsos, como se fosse vítima fatal de um acidente aéreo, exatamente nas imediações do litoral espanhol?
O Planejamento
A Operação foi planejada nos mínimos detalhes desde a escolha do cadáver que deveria ter como causa mórtis as características de um afogamento para confundir os alemães, pois fatalmente isso seria verificado pelo Serviço de Inteligência Alemão, bem como todo o resto da Estória de Cobertura.Foi criado um passado para o major William Martin, que na verdade era um súdito inglês que morrera de pneumonia e a família havia cedido seu corpo ao Estado desde que sua identidade jamais fosse revelada. Várias ligações fizeram para o major William inclusive lhe arrumaram uma namorada para dar mais realidade a história e a ela criar maior poder de convencimento aos alemães. Cartas e documentos foram dobrados e desdobrados várias vezes para parecer que tinham sido lidos diversas vezes.
O major Martin conduzia ainda chapas de identificação, um relógio de pulso, cigarros, bilhetes antigos de ônibus e chaves. Em sua última noite na Inglaterra, teria levado a noiva ao teatro e tinha no bolso a metade de dois ingressos para uma peça no dia 22 de abril de 1942.
Os Pontos Chave
Em suma, o plano de certa forma simples, baseava-se nos seguintes pontos:
Martin levaria numa pasta uma carta do general Sir Archibald Nye, subchefe do Estado-Maior Imperial, ao general Alexander, comandante do Grupo de Exércitos da África, com uma explicação, entre amigos, dos motivos pelos quais Alexander não estava recebendo do chefe do Estado-Maior, tudo o que queria. Por inferência, chegava-se a conclusão que se planejava atacar o Mediterrâneo Ocidental. Os possíveis pontos seriam um na Grécia e o outro, não muito bem identificado, mas não era a Sicília.
O major levava ainda um comunicado do Lorde Louis Mountbatten ao almirante de Esquadra, Sir Andrew Cunninghan, comandante-e-chefe no Mediterrâneo, explicando sua missão e concluindo: “Creio que Martin é o homem que lhe serve. Queira mandá-lo de volta logo que termine o assalto. E não se esqueça de dar-lhe mais sardinhas. Elas estão aqui racionadas”.
A palavra “sardinhas” servia apenas para indicar aos alemães a Sardenha como objetivo do ataque. Estava assim em grosso modo preparada, a Operação Recheio.
O cadáver de Martin seria transportado pelo submarino Seraph, sob o comando do tenente Jewell, e lançado ao mar próximo a Huelva.
O próprio Churchill deu sua aprovação e ordenou para que o general americano Eisenhower, no comando da invasão da Sicília, fosse informado.
O dia D
A operação foi desencadeada e na manhã do dia 30 de abril de 1943, um pescador espanhol avistou o corpo perto da praia e avisou as autoridades. Após autópsia, constatou-se asfixia por imersão no mar.
Como os britânicos imaginavam, os documentos caíram nas mãos de um conhecido espião nazista operando na Espanha, que depois de fotografá-los enviou as fotos para a Alemanha.
Nesse ínterim, um agente alemão estava na Inglaterra verificando o passado de Martin, investigando os dados relativos a sua vida. Tudo que procurou achou e se convenceu que tudo era verdadeiro, informando a seus superiores na Alemanha, sem saber que a Contra-Inteligência havia seguido seus passos.
Como resultado o Alto Comando Alemão transferiu uma Divisão Blindada da França para o Peloponeso (região da Grécia) e também foram colocadas minas ao longo do litoral grego.
No oeste, o marechal-de-campo Wilhelm Keitel assinou uma ordem determinando o reforço da Sardenha.
Mesmo depois de iniciado o ataque principal à Sicília, os alemães continuavam pensando tratar-se apenas de uma manobra secundária. O êxito da missão pode ser avaliado nas palavras do marechal-de-campo, Erwin Rommel, cujos documentos pessoais revelam que, quando os aliados invadiram a Sicília, as defesas alemãs achavam-se dispersas em conseqüência do encontro do cadáver de um mensageiro diplomático nas costas da Espanha.
É obvio que a Operação tinha muito mais detalhes do que os aqui mencionados, porém, nosso objetivo não é o detalhamento da Operação e, sim, mostrar a importância do Serviço de Inteligência e Contra-Inteligência para sua empresa, em particular a atividade de Contra-Inteligência que se utiliza de meios valiosíssimos para garantir a sua empresa a sustentabilidade nesse mercado globalizado, agressivo e competitivo, como a DESINFORMAÇÃO.