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Validação das fontes de dados: atribuição de grau de credibilidade ao conteúdo

Tomar decisões em segurança é assunto sério. Em geral as consequências de decisões ou a adoção de medidas equivocadas levam a consequências graves.

O gestor de segurança precisa cercar-se do máximo de certeza possível em relação às “informações” que recebe antes de decidir a respeito da situação que lhe é trazida a conhecimento. Não convém acreditar em tudo logo no primeiro momento.

Com essa finalidade – atribuir credibilidade às “informações“ que recebe –, o gestor de segurança precisa conhecer a origem – fonte – daquele dado, tendo condições de atribuir-lhe um grau de credibilidade, e dispor de um método por meio do qual possa também avaliar a veracidade daquele dado que lhe é passado.

Observa-se que se escreveu “informações “entre aspas e, logo em seguida, utilizou-se dado, sem a ressalva. Atente para as diferenças que breve serão explicadas. Dado é a “matéria-prima” para produção de Inteligência.

O texto de Stephen Kanitz, a seguir transcrito, ilustra bem a questão aqui discutida no sentido de que, em meio à avalanche de “informações” disponíveis, não podemos abrir mão de verificar sua confiabilidade e veracidade e, assim, separar o joio do trigo.

Vamos iniciar, então, este estudo, dizendo que:

Dado é a representação de fato, situação ou opinião expressada por intermédio de um relato verbal, contido em um documento, ou uma gravação, visualizado em uma imagem ou qualquer outro meio que possibilite a mentalização de um objeto e que não tenha sido submetido a nenhum processo de avaliação, ainda”. A Inteligência pode fornecer essa metodologia de avaliação de dados, conforme se verá a seguir.

Fonte, por sua vez, é a origem confirmada da representação veiculada ou a autoria identificada dessa representação (dado).

Vulgarmente o dado é chamado de “informação”. Mais adiante, vai-se verificar que, no cotidiano, para o operador de Inteligência, são difundidos, na maioria das vezes, dados.

Informações também podem ser recebidas, claro, mas devem conter dados sobre os quais se tem certeza, pois estes devem ter passado por um processo, de análise, podendo ser consideradas de elevada credibilidade. Informação dá conta de algo confirmado por mais de uma fonte. Mais adiante se voltará ao assunto.

A qualidade dos dados e a credibilidade das fontes por eles responsáveis deve ser a principal preocupação dos analistas ao oferecer “informações” para as organizações.

Para a Inteligência, cujo papel principal é dar suporte às instituições/organizações para compreender a complexidade de determinados contextos e utilizar os conhecimentos em favor de seus interesses, os dados tornam-se ferramentas fundamentais para o início do processo de tomada de decisões. A confiabilidade dos dados é imprescindível a uma decisão que se quer efetiva.

Todo dado, para ser utilizado na produção de conhecimento de Inteligência, precisa ser validado.

O artigo de Kanitz, nesse sentido, é bastante elucidativo em relação à nossa possibilidade de acreditar naquilo que é veiculado sem uma análise mais acurada.

A avaliação de fontes e de dados é, dessa forma, fundamental para dar credibilidade aos conhecimentos veiculados em qualquer ocasião.

Para atribuir um grau de credibilidade a uma fonte, é necessário que ela seja acompanhada. Em seguida se avalia o conteúdo do dado disponibilizado por essa fonte e, finalmente, se atribui um grau de credibilidade ao binômio fonte-conteúdo.
É possível avaliar uma fonte, sem avaliar o dado por ela veiculado e vice-versa. Algumas organizações assim procedem. O resultado, no entanto, nem sempre é superior ao daqueles que utilizam a metodologia mais consagrada da fonte-conteúdo.

As fontes de dados, quanto ao tipo ou à natureza, podem ser:

  • Pessoas: são aquelas que detêm a autoria do dado, por terem percebido, memorizado e descrito um fato, uma situação ou emitido uma opinião. As pessoas são as fontes mais confiáveis, pois são as únicas que detêm a capacidade de emitir juízo de valor.
  • Organizações: são aquelas que detêm a responsabilidade pelo dado, por tê-lo veiculado, diante da impossibilidade de se identificar a sua autoria real. Por exemplo, publicações, telejornais etc.
  • Documentos: são aqueles que expressam o dado, mas não contêm indicações que permitam a identificação do seu autor ou da organização responsável. Por exemplo, um manuscrito encontrado sem que se possa identificar seu autor.
  • Tecnologias: são todas aquelas capazes de captar sinais e/ou imagens. São as também chamadas de fontes tecnológicas. Exemplo: sensores de imagem, de áudio, de massa etc.

As fontes podem ser classificadas, observando-se aspectos os mais variados, como podemos ver a seguir:

1. Quanto à origem, podem ser:

  • fontes primárias: fonte humana;
  • fontes secundárias: organizações; documentos; tecnologias (imagens, sinais e dados eletrônicos).

2. Quanto ao sigilo, podem ser:

  • fontes abertas: são as pessoas, as organizações, os documentos e os equipamentos de onde se obtêm dados por livre acesso, nos quais não ocorram restrições de acessibilidade;
  • fontes sigilosas: são as pessoas, as organizações, os documentos e os equipamentos de onde se obtêm “dados negados” ou cuja identificação não pode ser revelada. Normalmente, têm restrições de acessibilidade.

Além disso, deve-se considerar que o dado pode ter sido, ou não, originado na fonte que o transmitiu. Quando o dado é transmitido ao analista por um meio que não originou o fato, situação ou opinião, este meio é denominado canal de transmissão. Nesses casos, é importante que o analista procure saber como ocorreu a comunicação entre a verdadeira fonte e o canal de transmissão. É imprescindível discernir entre fonte e canal (ou meio) de transmissão.

Fonte (origem do dado) Receptor (avaliador)

Fonte (origem do dado) canal de transmissão Receptor (avaliador)

Antes de aceitar o dado veiculado pelas fontes, é preciso estabelecer um critério para julgá-las. Em geral, busca-se um critério que envolva pelo menos três aspectos. Como exemplo:

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Usar fonte humana é fundamental para todos os processos de Inteligência, mas requer operadores especialmente capacitados para avaliar essa pessoa. É oportuno lembrar ainda que fontes tecnológicas apenas reproduzem aquilo para o qual foram “ensinadas” a obter. O texto a seguir é bastante ilustrativo a esse respeito.A fonte humana, apesar das imperfeições inerentes à sua condição, é a fonte ideal por excelência. É a única capaz de emitir juízo de valor a respeito de tudo que ouve, vê ou sente.

A Inteligência dita Institucional ou de Estado, faz muitas décadas, vem empregando, para julgamento das fontes de dados, três aspectos específicos – autenticidade, competência e confiança –, os quais vêm explicitados no quadro que se segue.

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São diversas as formas de atribuir um grau de credibilidade às fontes, levando em consideração os fins a que servem,
se institucionais ou privadas.

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Os operadores de comunicação social costumam considerar as fontes como agentes da sociedade que protagonizam os fatos e suas repercussões. Observe que, neste conceito, a fonte é protagonista, sendo, portanto, interessada naquilo que é veiculado e em seus desdobramentos. Isso é importante quando o analista for atribuir um grau de credibilidade ao conteúdo. Quem tem interesse no fato ou na situação pode distorcê-lo.

Para se avaliar corretamente uma fonte, é preciso:

  • conhecer um método;
  • acompanhar sistematicamente a fonte;
  • conhecer o assunto-alvo;
  • conhecer técnicas operacionais;
  • entender que a fonte também pode ser protagonista.

Avaliar fonte, atribuindo-se uma condição de credibilidade, requer acompanhamento contínuo dessa fonte, pois trata-se, em última análise, de um julgamento com base em uma observação fundada em estatística.

Após as considerações a respeito das fontes, passemos a avaliar o conteúdo do dado. Vamos lembrar que, quanto à aceitação do dado pela nossa mente, temos uma adesão total quando há certeza; adesão parcial quando se trata de uma opinião ou dúvida, e incapacidade de adesão, no caso de ignorância em relação a imagem a ser formada daquele conteúdo.

Para avaliar bem o conteúdo dos dados transmitidos, é preciso:

  • conhecer uma técnica;
  • prática (experiência);
  • vivência na atividade;
  • conhecimento do assunto veiculado;
  • percepção aguçada.

O julgamento do conteúdo do dado também deve ser realizado sob três aspectos, preferencialmente, conforme se depreende a seguir.

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Estes aspectos, em seu conjunto, devem levar à confirmação ou não do conteúdo do dado.

Lembre-se de que é preciso considerar, ao julgar o conteúdo do dado, a compatibilidade com o que se sabe, a semelhança com outros dados veiculados e a coerência interna.

Além dos elementos já tratados, é muito importante, neste momento, identificar corretamente o Ponto de Interesse, aspecto do conteúdo de um dado que, efetivamente, interessa para a solução de um determinado caso ou atende a um interesse (objetivo de Inteligência) do Órgão de Inteligência (OI). A correta identificação do ponto de interesse evita que se perca a objetividade na análise.

Assim, o ponto de interesse implica verificação do interesse da fonte como protagonista; determinação do aspecto do conteúdo do dado que efetivamente interessa ao trabalho realizado e coerência com os objetivos e as necessidades da organização – plano ou estímulo. Deve ser bem identificado, antes de submeter o dado à avaliação.

Existem várias designações para atribuição de um grau de credibilidade ao conteúdo de dados. Algumas delas assim procedem:

  • alta, média e baixa (quanto à veracidade do conteúdo);
  • de 1 a 6 (sendo 1 de elevada credibilidade e 6 o de baixa credibilidade, podendo ser de forma contrária);
  • confirmado, não confirmado, duvidoso e sem avaliação;
  • confirmado, provável, possível, duvidoso e sem atribuição.

Para fins práticos, diferentes OIs (especialmente os institucionais) procuram conduzir o julgamento da fonte e do conteúdo concomitamente, estabelecendo uma tabela (como a que se segue), com essa finalidade. Alguns OIs, no entanto, preferem julgar de maneira única, emitindo apenas uma avaliação para fonte (em geral omitindo esta) e conteúdo, como por exemplo, dado 1 – verdadeiro; dado 2 – duvidoso ou dado 3 – dado falso.

A avaliação das fontes – de onde o dado é originário – e do conteúdo trazido à luz é de extrema importância para a qualidade do produto da análise – o conhecimento de Inteligência produzido. A credibilidade do conhecimento de Inteligência é diretamente proporcional à qualidade da (s) fonte(s) e à qualidade da avaliação do conteúdo dos dados que o integram.

Vamos nos reportar ao artigo do início deste capítulo? O trecho “Embora o ser humano nunca tenha tido tanto conhecimento como agora, estamos na ‘Era da Desinformação’ porque perdemos nossa vigilância epistêmica. Ninguém nos ensina nem nos ajuda a separar o joio do trigo ” pode ser ilustrado por Josemaría Escrivá, no texto que tanto pode nos ensinar: “Nunca queres ‘esgotar a verdade’. Umas vezes, por correção. Outras – a maioria – para não passares um mau bocado. Algumas, para o evitares aos outros. E, sempre, por covardia. Assim, com esse medo de se aprofundar, nunca serás um homem de critério”.

É importante que o gestor de segurança tenha uma metodologia para avaliar as fontes e os conteúdos dos dados que recebe com a finalidade de tomar decisões (ou planejar) o mais próximo da exatidão que lhe seja possível.

Salienta-se que a finalidade dessa avaliação é ter confiança nos dados recebidos, aumentando, assim, a segurança para aceitar o dado.

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