O ROUBO DE CARGA E A GESTÃO DE RISCOS COMO FERRAMENTA ESTRATÉGICA
Crise política, crise econômica, crise na segurança pública, crise na saúde pública, crise na educação, recessão, inflação em alta, aumento do desemprego e dívida elevada. É este o cenário da atual crise brasileira, que pode ser considerada como a maior do país dada sua dimensão e complexidade.
Marcado por grandes escândalos como impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, pela prisão de diversos personagens de alto nível do cenário político e econômico nacional como grandes empresários, ex-governadores, ex-ministros e parlamentares, na operação Lava-jato, e pela denuncia por corrupção do atual presidente Temer e o senador Aécio Neves, cresce o monstro da crise brasileira.
Com o crescimento da crise cresce também as incertezas da sociedade em relação ao futuro político e econômico do país.
Com a constante falta de investimentos e a má gestão dos serviços públicos essenciais como segurança, educação e saúde, aumentam a passos largos os índices de criminalidade no país.
De acordo com a 10º Edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a cada 9 minutos uma pessoa é morta violentamente no Brasil, 58.467 pessoas foram mortas intencionalmente sendo 54% são jovens entre 15 e 24 anos e 73% são pretos e pardos.
Mais de um milhão de carros roubados e/ou furtados em dois anos, 110.327 armas apreendidas em 2015. Entre 2009 e 2015, policiais brasileiros morreram 110% mais em serviço do que os policiais americanos. Em 2015 foram 358 policiais vítimas de homicídio, sendo 91 em serviço e 267 fora de serviço. Entre 2009 e 2015 ocorreram 17.688 mortes pelas Polícias, no ano de 2015 foram 3.320 mortes decorrentes de intervenções policiais.
Ainda segundo o estudo o Brasil registrou de Janeiro de 2011 a Dezembro de 2015 279.567 mortos, já a Guerra na Síria de Março de 2011 a Novembro de 2015 registrou 256.124 mortos, ou seja, em 5 anos o Brasil registrou mais vítimas de mortes violentas intencionais (pessoas assassinadas) do que a Guerra na Síria no mesmo período.
O estudo afirma também que o efetivo da segurança privada é quase igual ao número de Policiais Civis e Militares no país que atualmente é de 552.399 para 519.014 Vigilantes ativos. Isso demonstra o nível de insegurança da sociedade que busca na segurança privada maximizar a segurança de suas famílias e negócios.
No Rio de Janeiro os dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), órgão da Secretaria Estadual de Segurança, confirmam o expressivo aumento no número de crimes no Rio de Janeiro ao longo do primeiro semestre de 2017, em comparação ao mesmo período de 2016. Os casos de homicídio doloso passaram de 2.472 para 2.723, registrando um crescimento de 10,2%, os de latrocínio (roubo seguido de morte) aumentaram 21,2% (de 114 para 138 ocorrências) e os de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial tiveram um incremento ainda maior, de 45.3%, subindo de 400 para 581 casos.
Os dados do Instituto de Segurança Pública mostraram também que os roubos de cargas triplicaram de 2000 a 2016 no estado do Rio. Em 2017, a média é de 24 caminhões roubados por dia.
O roubo de carga é um tipo de crime com alto impacto econômico, no que diz respeito não apenas ao valor da carga roubada, mas a outros fatores geradores de custos para as empresas, como a elevação dos gastos com seguro e com sistemas de segurança particular e essa conta acaba repassada para o consumidor. Tal fato pode levar até mesmo ao fechamento ou deslocamento geográfico de empresas, com consequências negativas para a economia do estado e para a arrecadação do governo.
Em fevereiro de 2017 foi criada uma taxa chamada Emex, emergencial excepcional, que é cobrada 1% sobre o valor da mercadoria para todas as mercadorias destinadas ou com origem no Rio de Janeiro, ou seja, quem produz no Rio e quem consome no Rio paga mais caro pela falta de segurança.
Segundo a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC), a taxa é prevista para “regiões que se encontram em estado de beligerância”. Prevê a cobrança de R$ 10 por fração de 100 kg de carga, mais um percentual do valor da carga que varia de 0,3% a 1,0%.
Devido aos roubos frequentes, o preço de alguns produtos chega a subir 20%, e nos últimos 6 anos, a violência causou um prejuízo de mais de R$ 2 bilhões ao estado do Rio de Janeiro, segundo estimativas da Firjan.
Diante de tudo isso, as empresas tentam continuarem competitivas e até mesmo sobreviver no mercado e para isso investem em tecnologia para minimizar perdas e maximizar resultados – onde muitas vezes não traz o resultado esperado.
O gerenciamento de riscos é fundamental e indispensável para a perenidade das empresas diante de um cenário caótico como o atualmente vivenciado. Uma minuciosa análise situacional das operações, bem como a devida aplicação dos procedimentos, treinamento, implantação e manutenção, contribuem efetivamente para a prevenção e a mitigação das perdas.
O gerenciamento de riscos tem por obrigação evoluir constantemente não só na aplicação dos serviços como também no envolvimento com os setores de tecnologia e segurança para neutralizar e/ou minimizar a exposição de cargas à riscos.
As tecnologias são ferramentas fundamentais para a gestão de riscos das operações, porém, devem sempre buscar dispositivos que dificultem e/ou impeçam as ações marginais. A evolução das ferramentas devem andar á frente do modus operandi das quadrilhas. É importante destacar que as tecnologias para nada servem se os seus recursos não forem bem programados e utilizados pelas centrais de monitoramento com ações de pronta resposta.
Os modelos de gerenciamento de riscos na intensidade que são aplicados no Brasil nos torna referência mundial nessa prática, e empresas brasileiras já são visitadas e convidadas para multiplicar os seus conhecimentos.
Entretanto, gerenciar riscos é uma cultura. É importante que todos os setores envolvidos, Gerenciadoras de Riscos, Embarcadores, Transportadores, Seguradoras, Corretoras de Seguros e Órgãos de segurança pública, trabalhem em sinergia com foco diário no controle e redução de perdas.